sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

5 Parte ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE INTRODUÇÃO - II


ESTUDOS NO LIVRO DO APOCALIPSE
INTRODUÇÃO - II


Hoje continuaremos vendo alguns aspectos introdutórios ao estudo do Apocalipse. Após defini-lo como fazendo parte de um gênero literário chamado de apocalíptico e de situar a época em que foi escrito (reinado de Domiciano - 81 a 96 d.C.) e o seu objetivo (fortalecer comunidades que sofrem ou então prepará-las para o sofrimento), veremos neste estudo a auto-definição do livro como profecia (1,3) e buscaremos uma estruturação mais pormenorizada.

1. O APOCALIPSE COMO PROFECIA - O QUE SIGNIFICA ISSO?
Já foi visto que, de acordo com o próprio nome do livro (Apocalipse = “revelação”- 1,1), o escritor procura apresentar o real sentido da vida cristã e do sofrimento através de uma “revelação” de Jesus Cristo. Mas o escritor também se apresenta como profeta (22,9) e caracteriza seu livro como profecia (1,3; 22,19). Qual a importância disso para o entendimento do texto?
A importância é muito grande, visto que dependendo da definição que temos de profecia, será o tipo de interpretação que faremos do livro. O que é profecia para você?
Hoje em dia é muito comum o conceito de profecia como “predição do futuro”. É algo semelhante ao horóscopo, às profecias de Nostradamus ou coisa assim. Tal visão também é muito influenciada pelos místicos que fazem previsões e pelas práticas pentecostais, onde a previsão do futuro, como profecia, ocupa lugar de destaque. Mas será que é isso que o escritor do Apocalipse tem em mente quando chama seu livro de “profecia”?
O escritor do Apocalipse baseia-se no conceito vétero-testamentário de “profecia” para definir sua atividade. Nesse sentido, profecia é:
• Uma mensagem recebida diretamente de Deus. Essa era a principal característica dos verdadeiros profetas em relação aos falsos (Jr 23,18-22). Eles entravam no “conselho” do Senhor. Esse conselho é composto pela Trindade e os seres celestiais que estão na presença de Deus e pode ser visto nas cenas dos capítulos 4 e 5 do Apocalipse. É ali que João, como profeta, se encontra (4,1). Portanto, o profeta é, fundamentalmente o que recebe “de Deus” sua mensagem. Por isso, ela é importante e não pode ser alterada (22,18-19). Além de provir de Deus, a profecia nos tempos neotestamentários é centralizada em Jesus (19,10). O espírito, o centro da profecia é o “testemunho de Jesus”. Ela visa fornecer uma mensagem sobre Jesus Cristo, e não “satisfazer” nossa curiosidade quanto ao futuro.

• Uma mensagem que aponta para a vinda final de Jesus Cristo. Ela segue aqui a perspectiva pela qual o Velho Testamento era interpretado: cristologicamente, isto é, vendo nele predições que apontavam para Jesus Cristo (Lc 24,44). O Apocalipse segue essa linha apresentando uma visão “cristológica” da história, afirmando que Jesus controla a história e indicando que os eventos relativos a sua segunda vinda “estão próximos” (1,3). Na realidade, para o Novo Testamento, desde que Jesus encarnou e ressuscitou, ele “já está chegando”. É por isso que o escritor pode falar do julgamento sobre Roma como algo muito próximo. Porém o livro não fala de acontecimentos “particulares”, mas de ações de Jesus que se darão como conseqüência de sua segunda vinda.

• Uma mensagem que chama ao arrependimento. Essa é uma das principais características da profecia. Na realidade, ela é uma palavra que tem uma forte ênfase no “presente”, no comportamento do povo. Para criticar a prática pecaminosa, o profeta volta-se para o “passado” e encontra nele as orientações de Deus dadas no Pentateuco (quando o profeta vive nesse período), ou nas palavras de Jesus (quando o profeta é cristão). A partir daí faz advertências para que se abandone a prática do pecado, pois se não houver arrependimento, Deus irá punir tal comportamento no “futuro”. Portanto, a profecia fala do futuro como conseqüência da vida do povo no presente. É nesse contexto que o profeta fala às igrejas nos capítulos 2 e 3 chamando-as ao arrependimento e advertindo-as quanto ao futuro (2,5.16. 21-23; 3,3).

Após essas considerações sobre a profecia no Apocalipse, podemos ver por que o seu autor usa o gênero apocalíptico e refere-se ao livro como profecia. Seu objetivo através da apocalíptica é chamar a atenção para as tribulações que estão por vir e fornecer fortalecimento e conforto aos que sofrem. Para dar autoridade a essa mensagem, dá a ela a categoria de profecia.
Visto que a profecia não pode ser vista como um mero “narrar de eventos futuros”, estando, pelo contrário, mais ligada ao presente, podemos, portanto, concluir que o Apocalipse não é um livro que narra apenas acontecimentos “futuros”. Essa constatação permite-nos agora buscar uma visão que substitua essa abordagem futurista que se faz ao livro.

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